26 junho, 2009

lumen propheticum

Ei-lo. Franqueia os currais de hastes ao alto. Afunda os cascos no cascalho e rasga chãs em acidentadas veredas. Para o Doutor da Lei não há sarça aguçada. Há o poder de uma boca cúpida sobre glandes prolíferas. Do poder. De tanto foder. O Cântico dos Cânticos. Um Oseias de almanaque a profetizar prostíbulos onde Iavé encontra Israel de vulva ao relento, a prostituir-se entre directores-gerais e secretários de Estado, amanuenses de repartição e outras sevandijas. A um extremo da cercadura anuncia-se Papa, faz-se Leão X e proclama voluntarista: “Desde os tempos imemoriais que se sabe quão proveitosa nos tem sido esta fábula de Jesus Cristo”. Cuidai. É Diamantino quem chega.


16 junho, 2009

afluente

Esta ausência de vento, este céu ubíquo feito do miolo de um pão de centeio, esta gota translúcida de suor a escorregar como uma áspide pelos nós da espinha, a sibilar parágrafos de Júlio Dinis num auto da fé sem chama, um estalar de aparador antigo, esta maresia de gasolina e trampa, este rumor contínuo de engrenagens. Este eu. Uma margem do Alva. O som da água sobre os seixos. Uma carcaça com queijo e marmelada. A minha avó Augusta a sorrir-me de uma cadeira de pano e alumínio, um chapéu de abas desmaiadas sobre os pequenos caracóis cinzentos e um carinho sem fim.

08 junho, 2009

o príncipe

Paulo Rangel é militante do PSD desde 6 de Maio de 2005. Figura do baronato? Não. Paulo Rangel foi o primeiro líder da bancada parlamentar social-democrata a cilindrar a prosápia tonitruante de José Sócrates no eucaliptal da maioria absoluta socialista. Acaso? Não. Paulo Rangel reivindicou a “primeira vitória do ciclo eleitoral”. Regressará a Lisboa para a terceira? Para perceber o alcance da superior inteligência política de Paulo Rangel, revisite-se Maquiavel: “Devemos, então, saber que há dois géneros de combate: um que se serve das leis, outro que se serve da força: o primeiro é próprio do homem, o segundo dos irracionais: mas porque o primeiro muitas vezes não basta, convém recorrer ao segundo. A um príncipe é necessário, portanto, saber deveras usar ou o animal ou o homem que estão dentro dele”.