11 dezembro, 2010

manhã

Poderei amparar-te nos meus braços, ao que me dizem, nos últimos suspiros do Verão. Lá estarei. Entretanto, espero-te com a mesma alegria que experimentei, certa vez, a um extremo da sala de jantar, quando os teus avós aninharam um envelope com selos da Hungria ao Canadá entre as agulhas de um pinheiro amputado, um cheiro a resina que não passava. Uma carta do Pai Natal. Para abrir dali a uns dias. O mesmo entusiasmo. Puro. Ainda não te conheço as linhas do rosto, a cor dos olhos, a geografia dos remoinhos no cabelo, a voz, o modo como os teus dedos pequeninos vão investigar a barba no meu queixo. Mas prometo-te desde já que aprenderás as constelações e as fases da Lua, ouvirás uma guitarra e as histórias de Phileas Fogg e do Capitão Nemo antes dos sonhos, todas as noites, se quiseres. Saberás que o teu quarto pode ser uma nave espacial a franquear os anéis de Saturno, ou um castelo, ou um palácio. Tu decides. Eu ensino-te. Aprenderás a pedalar uma bicicleta. Não tenhas medo. Eu seguro-te o selim. Depois largo-o sem que o percebas. E ficarei a olhar-te, o peito a estalar de amor.