30 dezembro, 2011

janeiras

A mílcar Barca desenhava a órbita de Calisto num guardanapo de papel enquanto a mulher aproximava o isqueiro de um coto de acendalha entre duas pinhas na lareira, a um extremo da sala de jantar. Um pequeno halo. Em breve chamas a lamberem o azinho. Encostado à cristaleira, um pinheiro de Natal a desfazer-se em tiras verdes. Tapada das Mercês. No quarto mais exíguo do quinto direito, a avó confiava a dentadura a um copo de vidro espesso sobre a mesa-de-cabeceira. O avô gemia debaixo de um cobertor eléctrico. Peidava-se amiúde. Depois tornava a gemer. Angina. Dali a três dias e metade de uma noite tombaria morto no mosaico frio da casa de banho ao sacudir o pénis depois de ordenhar a urina possível.
- Morreu o velhote do quinto direito - De quê? - Diz que se apagou a mijar – Homessa – Parece que sim – Não estaria a esgalhá-lo? – Que disparate – Bom, para se morrer basta estar-se vivo – Essa é que é essa – És pó e em pó te tornarás, ou lá como é que se diz – Bonito – Era velho e morreu, pronto – Sabes que mais? – Diz – Quero que se foda.
Na mesa da cozinha, Júpiter já se agigantava no guardanapo quando Asdrúbal irrompeu das ombreiras. Montava um triciclo de plástico. Pediu uma carcaça com manteiga. O pai mandou-o dar uma curva.