10 janeiro, 2012

xangri-lá

J ulião deparou-se com uma gaivota moribunda na Rocha Conde de Óbidos e largou a correr para casa. Sem despir o anoraque, sentou-se ao computador para narrar no feicebuque o místico episódio da ave que morria. Depois, ainda mal refeito, comeu uma bolacha de canela e bebeu um copo de leite.

No feicebuque de Natália há fotografias de Natália. No feicebuque de José há fotografias de José. No feicebuque de Maria há fotografias de Maria. Maria é amiga de José e de Natália. Já José é apenas amigo de Maria. Ao passo que Natália é também amiga de Julião. No feicebuque.

Mário gosta de se ver de óculos escuros e tronco nu no feicebuque. Antónia marcou um encontro com Mário. Através do feicebuque, onde encontrou Mário de óculos escuros e tronco nu. Na Costa de Caparica. Ambos leram a história da gaivota que expirava lentamente na Rocha Conde de Óbidos. Por via do feicebuque de Julião. Ela enterneceu-se. E chegou a chorar. Ele muniu-se de um palito para extrair de uma fissura entre incisivos um teimoso filamento de carne assada que ali se aninhara ao almoço.

02 janeiro, 2012

tu e eu

S e acordo cinzento, o teu sorriso expurga-me de sombras. Se perco o sentido, o cristal nos teus olhos devolve-me ao caminho. Se o dia gotejou lento como melaço, encontro-te ao chegar a casa e renasço. Não me deixas dormir. Não faz mal. Porque me perderia se te perdesse. E isso que seguras agora entre as mãos, como se fosse um dos teus brinquedos de peluche ou o último biberão da noite, é o meu coração.