Esta noite sento-me no banquinho lacado do toucador, antes, e junto ao braço do sofá, depois. Domino as cornucópias e os torneados do meu cabelo avelã e sinto um fremir da pele na falda da nuca; o arrepio de aletria e canela nos extremos das cerdas da minha escova madrepérola; uma madeixa incendiada de candeeiros e paus de incenso que goteja num demorar de mel da minha testa para o meu queixo – e o meu rosto assim reflectido no espelho, ao lado de uma lauda rasgada em que desenhei um coração varado por uma flecha apache e escrevi questa solitudine immensa, é o quarto crescente de uma lua de maçapão e sonetos de amor.
- A casa fria, sem música, sem abraços – segredo numa prece só minha enquanto afofo as almofadas de tafetá e componho o sobrecéu de princesa que me alinda a cama.
No sofá agoniza um livro; nas páginas silva uma corrente de ar de casebre abandonado. E eu sou uma botija de água morna e um cobertor, uma cabeça que esmorece de sono e uma agulha de gira-discos numa curva estropiada de um disco velhinho do Nilton César.
- Espere um pouco um pouquinho mais espere um pouco um pouquinho mais espere um pouco um pouquinho mais espere um pouco um pouquinho mais espere um pouco um pouquinho mais...
10 janeiro, 2006
a casa fria (três)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário