13 agosto, 2019

acta


A os vinte e dois dias do primeiro mês do ano corrente, realizou-se na sala de condóminos do prédio sito nesta rua, que se assemelha ao Mekong a escorrer untuoso Camboja abaixo, uma velha lancha americana a gemer de ferrugem numa das margens, próxima do café Asdrúbal e da engomadoria de Natália, mestre em hermenêutica convertida em artesã dos colarinhos e dos adamascados, e o próprio prédio um pagode a esboroar-se em caliça e fragmentos de folha de ouro, a assembleia geral destinada à aprovação das contas do ano predecessor. Os condóminos manifestaram a sua concordância relativamente às parcelas que lhes foram apresentadas, até ao momento em que o condómino do segundo direito principiou a perorar no sentido de uma silhueta esguia como estatuária egípcia no topo de uma colina, para lá de um campo de arroz armadilhado, encaminhando-se de seguida para aí, calcando uma mina que acabou por se lhe explodir à latitude da cintura, num amplexo cortante que o lascou a meio. O que não o impediu de ensaiar uma litania contra a cor designada para a pintura da fachada, que considerou demasiado exótica e pouco sóbria, fim de citação.