03 fevereiro, 2009

medo (prólogo)

A grelha do carro é o bordão de Moisés a rasgar um mar de subúrbio. Num promontório do Cacém, à direita, agoniza um farol de luz fátua entre uma marquise e um postigo de casa de banho. Navios mercantes, arrastões, bacalhoeiros, batéis de barqueiros tristes e couraçados com gasóleo ou grandes tambores de betão no lugar de tombadilhos. Sobre a foz de uma avenida a ranger de cárie, um murmúrio de morte demorada, um manto mais negro do que a noite.