25 março, 2009

turno da manhã


Amanheço a gotejar solidão. Sai-me pelos cantos dos olhos como sardaniscas a despontarem de fendas num muro de quintal. Em seguida ergo-me com um peso de botija, lânguido, rastejante, os calcanhares a sulcarem ninhos de pêlos púbicos e filamentos de cabelo pardo dispersos pelo mosaico. Do espelho para cá espreita-me um rosto anémico que aparenta ser um funcionário do Ministerium für Staatssicherheit, adivinho comentários em surdina sobre a heresia de escorar Solzhenitsyn nas espaldas de Lénine com Mao de atalaia. Sou eu, porém. Acorda, cabrão.