13 março, 2013

redenção


Q uando me abraça, o meu filho consola-me com palmadinhas nas costas. E sorri, os olhos de amêndoa a cintilarem e os dentitos de leite a sublinharem-lhe a traquinice. Depois larga a correr trapalhão, na alegria irrepetível dos bebés. Designa com o indicador pequenos livros de dinossauros, do Rei Leão, do Mickey e do Donald. Trá-los. Domina as histórias de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Mas senta-se ao meu colo para que eu as desfie. Uma vez. Duas vezes. Três vezes. As vezes que ele quiser. O meu filho aprendeu há dias a dar beijinhos à esquimó. Se a mãe faz menção de querer um beijinho à esquimó, ele jamais deixa de estender o nariz ao pai. E a quem estiver à ilharga. O meu filho sorri não importa a quem. É plural. Embora pareça sorrir mais a loiras. Não sabe distinguir a maldade. É puro como a água de uma fraga remota. Confio-lhe o meu coração ao sair pela manhã. Devolve-mo lavado e preenchido quando regresso a casa.