12 março, 2013

legionela


D escalçou sapatos e meias, substituindo-os por um par de chinelos de borracha. Meio-dia. Um vago incómodo no intervalo dos dedos. Removeu o colete de lã, a camisa de flanela e as calças de bombazina, vestindo, em alternativa, uma túnica furtada à metade do guarda-fatos reservada à mulher. Uma agilidade de corista entre números. Estava sozinho. Era seguro. Cingiu a cintura com um cinto de couro. Da mulher. Apontou à sala, onde ergueu a pele de vaca que cobria parte do que lhe parecia um mosaico. Colocou-a sobre os ombros. Seguiu para a cozinha, onde improvisou um capacete com a saladeira e a pluma com uma porção da vassoura. Da faca do pão fez um gládio. De regresso à sala, trespassou a almofada de veludo. Depois sentou-se ao computador para actualizar o curriculum vitae.