06 novembro, 2010

influenza

O que mais me enfada nesta gripe de Novembro é a cadência das gotas de muco translúcido que se insinuam das narinas para os lábios, uma após a outra, a que se seguem outras tantas, dos lábios para o queixo e daí para a camisola, um prurido de aranhiços ou um rumor de fumarolas, tanto faz, nos seios perinasais.

Pingos salobros como a água da torneira em Portimão, quando as sardinhas brotavam à vista de todos em baldes convexos e negros dos porões das traineiras, os cascos garridos a estalarem de escrófulas e retalhos de algas. A mão do meu avô a guiar-me entre peixeiras, domésticas e gatos escalavrados sobre uma carpete de escamas na lota. O resto é sofrível: o cansaço; o peso de coníferas milenárias nas omoplatas e nas rótulas; este sopor de antipiréticos que me deixa exangue; este farrapo gemebundo de humanidade.