24 novembro, 2010

tiny pillows

E i-los aí. As camisas brancas, os botões de punho, as gravatitas, os sapatos negros e luzidios como o unto malsão que lhes corre nas artérias e os relógios a tinir nos pulsos quebradiços. Ei-los aí a babarem-se, às gargalhadas, quando alguém da matilha sugere que se capitalize a ocasião.
- Ó Sá e Cunha, ouve lá, pá, vê lá o que achas desta ideia, pá. E que tal vestirmos uns gajos de vermelho, pá? E que tal dar a um uma bandeira, pá, estás a imaginar, pá? Vermelha, pá, a imitar essa choldra dos sindicatos, ou os comunistas, pá. E que tal dar a outro uma resma de catálogos? Juntar assim uns quantos, a recibos verdes ou a pães com manteiga e pacotes de leite com chocolate, à beira de semáforos no Cacém, ou na Tapada das Mercês, como os romenos, mas sem um farrapo de cartão canelado a anunciar três filhos e fome, pá. A aviar panfletos com fotografias de televisores pelos vidros dos carros, pá, talvez uma ou outra mamalhuda de Leste a enfeitar as margens do papel, pá. Baixámos os preços para si, que hoje não foi trabalhar, ou outra coisa do género. É a greve, pá. É preciso aproveitar a greve, pá.