16 agosto, 2009

lípido

O insofismável aborrecimento de uma gota de suor a escorregar pela curva da carótida com uma languidez de azeite, enquanto a prodigiosa dorna e a respectiva cicatriz de um cordão umbilical tombam para o suão de Marrocos, sobre o cós das calças. Pêlos muito pretos num desalinho que o banho adestra e a aspereza da toalha desarruma, a toalha esquecida sobre a colcha. Como a papada de uma ave palmípede, isso, suponha-se uma ave a debater-se com a agonia de um peixe entre as tenazes do bico, no rabo um estertor de enforcado e o fulgor do Sol de Lisboa, tão perto e tão distante, substitua-se o peixe por uma fatia de bolo de chocolate a esbarrondar-se de encontro à mandíbula e aí o temos, um perfeito paquiderme de Aníbal, que ternura de refegos, a trepar os Alpes, ou a travar à chegada a Alfragide, o Estádio da Luz a crescer como um cesto de vime pintado de vermelho e um quadrado que se acende, oitenta!, ou a resfolegar na derradeira volta do laço no sapato, ou a suster no leito o ímpeto do quadril porque a aorta ameaça descoser-se e o miocárdio esgarçar-se. A geometria imperfeita de uma maçã reineta, ainda que dos canteiros das orelhas, que engraçado, desponte uma lanugem de pêssego. No prato. No espelho. De pé. Deitado como uma bacante a multiplicar canais de televisão, restos de bolo em redor dos mamilos, a sordície em que me acho a fazer lembrar uma viela na Brandoa, a fazer lembrar um saco de plástico que pende de um pinheiro à beira do IC2, se imaginar com muita força consigo ver um camionista de Frielas, uma chapa de matrícula a proclamar TOZÉ num extremo da carlinga, na escotilha lateral uma mamalhuda de indicador entre os lábios. Debruçada sobre o banco corrido, uma prostituta tisnada a ranger de piorreia principia a ordenha dos testículos. Uma segunda gota escorrega agora pelos nódulos da espinha. Aloja-se quente entre as nádegas. Um peido indolente. É o resplendor do Verão que se anuncia.