20 novembro, 2009

escape de rendimento

Ao domingo escancaro os pórticos de centros comerciais com o vigor de um Godofredo de Bulhão, bonjour mesdames e messieurs, o corcel de fibra de vidro a descansar os quadris no estábulo de cimento e amianto, entre carrinhos de supermercado que abrigam restos morrediços de alface e farrapos de papel a anunciar natais de cartolina, baquelite e poliestireno.


No ar um cheiro a cordite, às vezes a cigarros, às vezes a mijo, às vezes a tosses convulsas e a bafios de axila, às vezes um vago gargarejo de Bing Crosby no intervalo dos mugidos do gado graúdo. De forma que apresso a platina das sapatilhas na direcção de ruas intestinas em marmorite, contemplando-me no reflexo das montras, uma corrente de ouro a debruar-me o pescoço sobre a camisola da selecção e o olhar de atalaia à caça de prodígios da anatomia, creio que de plus en plus de femmes s’habillent comme des salopes. Trepo a uma das gáveas e colecciono regos de mamas para memória futura. Depois desapareço num oceano de torpores, sacos e telemóveis, que amanhã tenho um serviço na Bobadela.