19 dezembro, 2008

g de gratinado

Comove-me saber que envelhecerei sem quartel, embora venha cerzindo pregas e untando sulcos há um par de anos. Uma ocasião perguntei a um médico de boca oculta numa máscara azul celeste se não poderia debruar um sorriso imemorial nos meus lábios rarefeitos. Não. Agora pareço triste quando sorrio e contente quando choro. Bardamerda. Tenho anos disto e na verdade não carecia de qualquer apuro no tegumento para invadir os vossos cinescópios de cozinha ou cristais líquidos de salão e contar-vos que na Covilhã um cantoneiro, um funcionário dos correios e um professor primário vão ataviar-se de reis magos e contar histórias a crianças de olhar vago e reacções monossilábicas. Serve isto para dizer que me mordem as miudezas, sobretudo à noite, quando os meus acrílicos sobre tela parecem segredar-me das paredes que não tenho ninguém a quem os deixar.