22 julho, 2010

ponto de exclamação

Ósimo não dormia há setenta e duas horas no afã de escrever o mais belo texto em prosa da sua praceta, pelo que decidiu cobrir com um roupão o corpo despido e sentar-se a um canto da marquise amortalhada em alumínio, próximo da gaiola onde um bico de lacre se borrava sobre esmaecidos farrapos de semanário, a ler Júlio Dinis, primeiro, e João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, mais tarde. Erguer-se-ia ao cabo de instantes, um resto de escroto a surdir-lhe quebradiço de entre as abas em turco, exclamando que aquilo que realmente queria escrever era um poema sobre os canteiros de brincos de princesa da vizinha do rés-do-chão. Em seguida morreu.