21 dezembro, 2005

economia doméstica

A Preciosa, caracóis fulvos e rosto luminar, borboleteava entre as hortaliças e as caixas de pêros a transpirar um capilé de fada das reentrâncias húmidas. Despia-nos com íris que chispavam lazuli e afrontamentos apaixonados, sordície nos dizeres do rés-do-chão direito, santo ofício do prédio; uma coquete redonda entre as paredes perfumadas do lugar; uma gola em bico numa camisola cor de ginja a desaguar num rego de perdição, a cindir os seios que ora nos designavam num apontar túrgido, inspire, ora nos desdenhavam num recolher ofendido, expire. A Preciosa nunca deixou de ser a ternura inocente de uma quadra de manjerico, mesmo quando das mãos lhe escorria o sangue das lebres esfoladas numa cúspide de ferro, ou quando dos lábios polpudos cuspia as piores contumélias, ou quando vergava os rins para mergulhar uma pá de plástico na saca do feijão. Dizia-nos bom dia e o sorriso era um pomar, um laranjal e uma pouca de terra no descanso da chuva.

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