21 maio, 2008

fazendo uso do colete reflector, sinalize, de imediato, o local do acidente

Entardecer. No eixo da rotunda uma palmeira anã. Relva e lascas de pinheiro em redor do ornamento tropical alimentado a monóxido de carbono. Direcções. Algés, Lisboa, a auto-estrada. À direita. Viro à direita. Vou virar à direita. Viro à direita. Começo a despedir-me dos bosques de cimento de Alfragide. Para depois retornar a Alfragide. Retorno sempre a Alfragide. Por vezes tenho a impressão de que a minha vida é uma rotunda em Alfragide. Uma ocasião fui a palmeira e os carros eram Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Neptuno e Plutão - Plutão? Durou pouco. Alfragide é como uma puta esquálida e com dentes de platina que não conseguimos largar, a glande a latejar gonorreica e não conseguimos largá-la. A puta. Ontem fui Marte. E a translação da Terra foi desviada por uma momentânea desordem cósmica. Por um instante, as atmosferas fundiram-se como o palato da puta e as varizes do pénis de um aposentado do Ministério das Finanças, dióxido de carbono, azoto, árgon, oxigénio, água, néon. Em Marte uma cratera. Na Terra também.