06 janeiro, 2006

a casa fria (um)

Percorro esta esquadria da cal, do mármore em pó, do gesso e da areia fina com um volutear melífluo das retinas. Paredes. De outro modo entonteço de tamanha invernia, de uma tal geometria sem ao menos a nódoa de um dedo fusco e descuidado, o encarvoado de um suplemento antigo folheado numa tarde de chuva miúda, sem uma mancha de candura nos traços trémulos de um sol e de uma casa a lápis de cera a um canto da sala, por detrás de um anjo de gesso que nem o céu pôde abrigar, sem um eu de cabeça redonda e sorriso elíptico, o vestido um triângulo e os pés dois segmentos de recta, perto do caule de um girassol que cresceria acima das águas-furtadas num telhado desigual, sem a imperfeição de um resto de varejeira que fosse, uma ponta de asa que rutilaria quando a luz do sol viajasse da praceta para as traseiras, o toldo do café a desaparecer nas sombras e os veios pequeníssimos, palavra que seria assim, a acenderem-se em menos de um piscar das pálpebras, como as luzes de Natal no meu pinheiro de plástico.

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