28 novembro, 2005

fim-de-semana em papel (um)


«A escrita é a descoberta de nós próprios. Eu não gosto de reler muito os meus livros, mas releio-os quando são reeditados e, nessa altura, descubro sempre coisas que na altura em que escrevi não tinha consciência de estar a escrever. Os livros escrevem-se muito de noite.»

«Quando estou a escrever um romance tomo nota do que sonhei muitas vezes. Quando estou a escrever um romance tenho sempre papel na mesa de cabeceira. Se acordo e tenho uma ideia, escrevo. Outras vezes, se realmente é qualquer coisa tão importante que me obriga a escrever uma página, para não estar a incomodar a minha mulher com a lâmpada acesa da mesa de cabeceira, vou lá para dentro e acendo um candeeiro, escrevo um bocado e depois volto a deitar-me.»

«A escrita e a leitura faziam-me uma falta enorme, mas o pior de tudo era não poder ver o mundo. Estive com os olhos vendados muito tempo e custou-me muito não ver o mundo, sou muito visual. Felizmente fiquei a ver, mas sou muito míope. Vou ao cinema e ao teatro, mas tenho que ficar nas três ou quatro primeiras filas. Bem, há pormenores que me escapam, antes eu tinha uma visão muito aguda. Por outro lado, tem vantagens: às vezes vejo as coisas mais bonitas do que elas são. Num rosto, não vejo as rugas…»

Urbano Tavares Rodrigues
(retalhos da entrevista a Paula Oliveira - DNa, 25 de Novembro)

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