21 novembro, 2005

jorge

A minha capa ondulante
feita de negro tecido,
não é capa de estudante
é mortalha de vencido.


Quatro dedos deitados do peitoril do lábio ao barranco de pele vincada na base do queixo, sobre uma estopa espessa e semeada sem método num vaticínio de safras preguiçosas - as pontas da tesoura desdobrável numa poda de feriado entre vapores de água quente e o Fado Hilário na onda média do transístor; três dedos em leque de sevilhana, ao alto, o do meio sobre um triângulo isósceles de cabeça para baixo e os restantes sobre um desenho de barba a carvão que desmaia de mês para mês como os teus lábios de encontro aos meus às terças-feiras depois das vinte e três e quarenta e cinco, velados pelo torso amputado de um padre Cruz em gesso, numa cama de ferro a queixar-se em gemidos de velhinha constipada para trás e para diante, aos sábados às dezoito e trinta e oito num breu de despensa ao abrigo das homilias da tua mãe, os anátemas de Moisés numa cacimba de saliva da boca para a agulha de barbela sobre a pétala de uma camélia de croché e a minha mão sôfrega a desarrumar bolachas de água e sal e pacotes de arroz carolino enquanto investigo os bojos do teu corpo. Assim, quatro dedos deitados e três ao alto, logro apurar a geometria de um bigode e de uma pêra que, dizem-me ao balcão do bar dos bombeiros voluntários, mitigam um par de favas de bolo-rei que despontou há um ror de anos da minha gengiva - andava eu pelos canteiros da escola a sepultar berlindes na esperança de que nascesse uma árvore e que dos ramos, perfumados de alecrim, pendessem os abafadores azul cobalto que me levariam ao prémio da tua saia soerguida numa bissectriz discreta da vedação.

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