23 novembro, 2005

fio de melancolia


«Nils ergueu-se e foi até junto de Akka. Beijou-a e acariciou-a. Depois foi ter com Iksi e Kaksi, Kolme e Nelja, Viisi e Kuusi, as patas mais velhas do bando, e abraçou-as igualmente. Em seguida, separou-se delas com passo rápido e firme e tomou o caminho de casa. Sabia que a tristeza, nas aves, não dura muito, e queria separar-se das suas amigas, enquanto elas sentiam a dor de o perder. Quando chegou ao alto da duna, voltou-se e envolveu num último olhar todos os grupos de aves que se preparavam para atravessar o oceano. Todos gritavam alto: só um bando de patos-bravos voava em silêncio, enquanto Nils pôde segui-lo com o olhar.»

Selma Lagerlöf – A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia

Nota: creio que a melhor medida da riqueza narrativa que encontro em Selma Lagerlöf é esta minha necessidade de protelar a última página, este arrastar da leitura, um só parágrafo esbagoado uma e outra vez, a perda de um norte que, assim nos ensinam desde as fraldas, deve guiar-nos no mundo "verdadeiro": a fronteira da "idade"; a raia da "maturidade"; o apartar do sonho e da lágrima fácil e transparente. Esta Suécia de Lagerlöf, fábula inocente na aparência, é um apelo ao que sobeja de bondade em cada um de nós.

Créditos: Post Scriptum

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